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Resenha: Six of Crows - Sangue e Mentiras, por Leigh Bardugo

StartFragment Nota: 5/5 estrelas

Editora: Gutenberg

Paginômetro: 376

Gênero: Fantasia

Kaz Brekker não precisava de um motivo.

Mãos Sujas, o Bastardo do Barril e um dos piores combos de ladrão, assassino e gênio que Kettterdam poderia criar foi contratado para um serviço praticamente impossível.

O prêmio é uma quantia exorbitante, impensável e deliciosa de dinheiro — mas não há como recebê-lo se o trabalho acabar matando-o no final. Para sobreviver a essa missão, Kaz precisará reunir uma equipe composta pelos melhores entre os piores, e é claro, evitar que eles matem uns aos outros antes que os inúmeros obstáculos em seu caminho façam isso.

Uma espiã estrangeira com um dom para o manejo de lâminas.

Um viciado em apostas com uma mira incomparável.

Uma poderosa Grisha sangradora que está muito longe de casa.

Um ex-prisioneiro fjerdano consumido pelo desejo de vingança.

Um especialista em demolições que não passa de um garoto rico e franzino.

Kaz Brekker não precisava de um motivo, de fato, para reunir criminosos do mais baixo nível numa missão aparentemente suicida, além da possibilidade de adquirir uma fortuna imensa.

Mas será que ele encontrará algo além disso em meio a esse bando de foras da lei que se tornaram a coisa mais próxima que o Bastardo do Barril já ousou chamar de aliados?

E, mais importante, essa suposta aliança ainda importará quando os seis estiverem podres de ricos?

Isso é...

Se todos sobreviverem para ganhar sua parte da recompensa, é claro.

Sou suspeita para falar de qualquer coisa que Leigh Bardugo tenha escrito.

Eu amo aquela mulher e não consigo achar nenhum defeito nela, principalmente em Six of Crows, que é uma das minhas duologias favoritas no mundo inteirinho. Espero que eu consiga passar ao menos um pouco da admiração que eu sinto pela Leigh, ou, como nós fãs carinhosamente a apelidamos, nossa Dark Queen <3.

Não sei como comparar a história a outras ficções que já li antes, e isso para mim é o que a torna tão especial. Temos assuntos muito delicados sendo abordados ao longo do livro: escravidão, doença, violência, morte, estupro(não explícito), vício, etc. A autora envolve tópicos considerados "tabus" de um jeito direto, responsável, consciente. Em nenhum momento me senti especialmente incomodada com eles (mas eu considero meu estômago forte, no geral). Essa é uma história de anti-heróis: afinal, o objetivo é executar um roubo pra lá de arriscado num dos lugares mais seguros de todo o território, então tenha isso em mente. O enredo é recheado de trapaças, vinganças, mentiras e uma indiferença quase que gélida; principalmente por parte do próprio Kaz, que é o "mais principal" dentre os personagens principais, porque todo o plano se desenrola por causa dele. O cara é frio, rude, arrogante, desconfiado e cruel.

Lembra do que eu falei sobre o apelido de "dark queen" da Leigh?

A trama se desenvolve em Ketterdam, a capital de Kerch, que é um ilha não muito grande localizada a sudeste do Mar Real, que divide Ravka, Shu Han e Fjerda de Novyi Zem e Cabo de Ermes, países também introduzidos anteriormente noGrishaverse. Ao longo da trama veremos nomes já conhecidos dos livros prévios da autora, como Nikolai Lantsov, Alina Starkov, Zoya Nazyalensky e Genya Safin, e até a guerra civil em Ravka é mencionada, considerando que uma das protagonistas é uma grisha ravkana que conheceu alguns dos personagens presentes em Sombra&Ossos. Eu particularmente adorei ter notícias deles, meu coração ficou quentinho e cheio de saudades s2.

A história se inicia mostrando alguns dos nossos personagens incríveis — suas personalidades, opiniões, seus caráteres duvidosos. A maioria parece apenas um grupo de bandidos sem escrúpulos num primeiro olhar, mas é na segunda, terceira, quarta olhada que se percebe que há tanto mais para se enxergar por baixo da pele de cada um deles.

Bardugo tem a capacidade incrível de construir pessoas horríveis, impiedosas, cruéis — e ainda te fazer gostar inconscientemente delas. Um exemplo claro é o Darkling, outro personagem do Grishaverse (o mundo que a autora criou, ao qual somos apresentados na trilogia Sombra e Ossos). O homem é um poço de maldade, egoísmo e soberba, mas ainda é um personagem extremamente humano, com suas próprias aspirações, fraquezas e desejos.

Bardugo só aprimorou essa técnica ao longo de Six of Crows. Os integrantes do esquadrão de Brekker são carismáticos, divertidos e inacreditavelmente cativantes, e você se vê torcendo por cada um deles à sua própria maneira.

Kaz é o líder e o cérebro, Inej são os olhos e o ímã que os liga, Jesper é o sorriso e a diversão, Nina é o coração e a beleza, Matthias é a honra e a força, Wylan é a inocência e a esperança em meio a um mar de injustiças, caos e trapaças.

Sozinhos, eles seriam derrotados, mas juntos são imbatíveis, uma máquina (im)perfeitamente lubrificada e funcional.

A trama é cheia de reviravoltas, esquemas mirabolantes e surpresas de tirar o fôlego. Sério, quando você menos notar, vai estar com uma dor horrenda nos ombros, de tanta tensão envolvida nas cenas e diálogos. Toda vez que você acha que os crows se ferraram de vez, um deles arranja um jeito de livrá-los da enrascada mortal. Todos possuem objetivos diferentes ao conseguirem o prêmio — vingança, redenção, poder, recomeços...

Mas, no final, descobrirão que a missão pode ser bem mais perigosa do que previram a princípio, que nada é o que parece, e que ninguém é digno de confiança.

Os capítulos são contados na terceira pessoa, mas ainda se retém aos pontos de vista dos personagens principais, um de cada vez. A trama foi bolada de um jeito tão intrincado e inteligente que é quase impossível não ficar se roendo pela próxima página diante dos inacabáveis desafios que surgem pela frente dos protagonistas.

Os cenários são maravilhosamente detalhados, e a veracidade das cenas e situações é de deixar o queixo caído. Você quase consegue sentir o frio cortante de Fjerda enrijecendo seus músculos, ou a umidade oleosa do Barril de Ketterdam se agarrando às suas roupas. A autora é espetacular quando se trata da ficção em si: cada história individual, fator específico, estrutura e pormenor é muitíssimo bem construído. Nisso não consigo ser nem um pouco imparcial: Leigh criou um universo tão incrível e completo que você passa a achar uma droga o fato dele não existir de verdade.

Mas não é assim com todas as fantasias que arrebatam o mundo real como se fossem uma marreta? Quem é que gostaria de viver na normalidade ociosa do planeta Terra quando se tem uma Ravka, uma Kerch, um Condado, uma Tatooine, uma Westeros, uma Nárnia ou uma Prythian?

Essa é a graça do fantástico, minhas caras e caros.

Ele te permite viajar por mundos incríveis, viver vidas inimagináveis, enxergar possibilidades surreais, lutar contra anjos ou viver ao lado de monstros. Eu, particularmente, tenho um fraco por universos impossíveis.

Afinal, citando meu amado Nikolai Lantsov (também um personagem de Bardugo):

"Quando as pessoas dizem impossível, elas normalmente querem dizer improvável."

Da esquerda para a direita, nossos seis crows/protagonistas: Kaz Brekker, Inej Ghafa, Jesper Fahey, Wylan Van Eck, Nina Zenik e Matthias Helvar.

Arte por: @ritzbitzfei, instagram

Eu poderia citar Six of Crows pela eternidade; principalmente quando as cenas envolvem o Kaz, porque tudo que sai da boca daquele homem é uma pérola — figurativa e literalmente — mas aí vão alguns dos meus quotes favoritos:

"—Quem negaria uma bengala a um aleijado?

—Se o aleijado for você, qualquer homem de bom senso."

"—Eu sou um homem de negócios. Nem mais, nem menos.

—Você é um ladrão, Kaz.

—Não foi isso que acabei de falar?"

"Mas o trabalho da noite ainda não havia terminado, e a Espectro não tinha tempo para traidores."

"Quando todo mundo acha que você é um monstro, não é preciso perder tempo cometendo monstruosidades."

"—Seu deus é a ganância, Kaz.

—Não, Inej. A ganância se curva a mim. É minha serva e minha alavanca.

—E a que deus você serve, então?

—Qualquer um que me traga sorte.

—Não acho que os deuses funcionem assim.

—Não acho que eu me importo."

"Matthias conhecia monstros, e uma olhada em Kaz Brekker tinha lhe dito que aquela era uma criatura que havia passado tempo demais no escuro — e que havia trazido algo de lá quando se arrastou de volta para a luz."

"—Qual é a maneira mais fácil de roubar a carteira de um homem?

—Faca na garganta? — perguntou Inej.

—Arma nas costas? — disse Jesper.

—Veneno no copo? — sugeriu Nina.

—Vocês são todos horríveis. — disse Matthias.

Kaz revirou os olhos.

—A maneira mais fácil de roubar a carteira de um homem é dizer a ele que vai roubar seu relógio."

"—O truque é não ser derrubado.

Inej riu.

—Não, Kaz. O truque é se levantar de novo."

"Melhor verdades terríveis do que mentiras gentis."

(sim, eu realmente poderia citar quotes de SoC pela eternidade.)

Six of Crows - Sangue e Mentiras é o primeiro livro da duologia Six of Crows, sendo seguido por Crooked Kingdom - Vingança e Redenção, o segundo e último volume. Não é necessário ler a trilogia Grishaverse antes para ler a duologia SoC, mas eu recomendaria, afinal assim você estará bem mais imerso e informado sobre o universo criado pela autora. Fora que é uma ótima leitura, hehehehe<3

Ah! E um motivo extra para ler as obras do Grishaverse mais Six of Crows é que em breve elas se tornarão uma produção original Netflix! A primeira temporada da série intitulada Shadow&Bone, baseada nos volumes de Bardugo de mesmo nome, já está finalizada e aguarda data de lançamento. A produção envolve nomes como Ben Barnes, Jessie Mei-Li, Freddy Carter, Amita Suman e mais.

Música Tema da Resenha: Trouble - Valerie Broussard:

https://www.youtube.com/watch?v=f6D-1xOEns0

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